Saudades, tenho eu, do tempo que pra sorrir não se precisava de um motivo. E que para brigar só precisava de um espirro. Era mais simples, sabe? Preocupava-se menos, vivia-se mais. Melhor, não sei; mas que mais se vivia, isso eu posso garantir. Se toda experiência que eu tivesse a chance de passar, pudesse transformá-la em melodia, com certeza, seria uma fabulosa ária. Cheia de momentos calmos, e intensos acordes, mas todos eles fortes, únicos, meus.
Ecoariam por onde quer que eu passasse, levadas pelo vento, dizendo a todos quem eu sou e o que me faz ser quem sou, sem eu precisar, ao menos encará-las. Surgiriam grandes vivas!, ou ares de espanto, até seria vaiada, mas ao findar a execução de minha melodiosa vida, todos estariam ali, diante de mim, aplaudindo de pé pelo simples motivo de que eu tive coragem de ser. Agradeceria, em silêncio, o reconhecimento de tanto trabalho para compor e recompor minha melodia e letra para que eu pudesse, por fim, ter a minha tão sonhada música perfeita: a mais imperfeita de todas. Cheia de notas fora do tom, acima da oitava, cantada em fá. Mas eu não me importo nem um pouco. É minha música, e se me agrada aos ouvidos, já basta.
Indo contra todos os paradigmas, saio da rotina da perfeição e me cubro de humanidade. Sinto. E me lanço, ainda, de olhos semi-abertos, porque o medo faz parte do meu caminhar. Despenhadeiro longo, profundo. Mas ao invés de gritar, percebo que posso sentir o vento em meus cabelos, ao longe o cantar de pássaros, e cada vez mais próximo o som das ondas arrebentando contra o paredão de pedra. Caio. O choque da água com meu corpo faz-me desligar de qualquer mundo que exista. Minha respiração se torna escassa e tento, velozmente, retornar a superfície. Consigo, enfim. Ao sentir os fortes raios do sol em minha face, respiro profundamente e relaxo meu corpo. Começo a boiar, e dessa vez, fecho meus olhos por inteiro e me permito ser conduzida livremente pelas ondas. Chego até a margem, sento na areia, e admirando o mar...
Acordo, em meu quarto. Confusa, lembro que em um momento era aplaudida, e num outro, por um segundo, era suicida. Passo a mão em minha testa, sem entender muito o que todo esse turbilhão de belas imagens e sensações queriam me dizer. Choro, lembro que estou sozinha. Sorrio, porque agora eu entendo. E durmo, ao som das ondas que começo a perceber, eram aplausos.
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