Eu estava sentado no ponto do ônibus, quando uma garota de
olhos pretos, com o cabelo preso como um rabo de cavalo, blusa branca e calça
jeans, sorriu pra mim e sentou do meu
lado. Perguntou se aquele era o ponto que dava para o lugar que ela desejava
ir. Disse que sim, hipnotizado pela forma com que ela insistia em arrumar a
franja apesar do vento.
Depois disso, silêncio. Minha cabeça estava vazia. Não conseguia
pensar num assunto interessante para “puxar” conversa. Lembrei de um vídeo no youtube hilário. Respirei e abri minha
boca. Nenhum som saiu. Levei a mão rapidamente a boca e fingi que bocejava,
enquanto ficava enrubescido pela falta de voz. O que diabos estava acontecendo?
Olhei de relance e a vi, com fones de ouvido, cantarolando uma música e meio
que dançando com pés ainda que sentada. Tentei descobrir a música mas sem
sucesso. Mais silêncio. Quando estou disposto a desistir, entrego meu olhar para
o fim da rua e acabo avistando o ônibus. Aperto meus olhos para enxergar
através do reflexo do meu óculos cruzando com os raios do sol, e vejo que é o
ônibus dela. Viro e percebo que ela entretida com a música e as brincadeiras
com um bebê no colo da mãe, que estava sentada ao lado, fizeram ela não
perceber o que estava acontecendo. Instintivamente toquei na mão dela, para
avisar sobre o ônibus. Foram os milésimos de segundo mais eletrizantes que havia
sentido até aquele instante, no auge dos meus 20 e poucos anos. O mundo parou e
começou a rodar lentamente seguindo o movimento da cabeça dela girando em minha
direção seguido do sorriso mais doce que alguém já dirigiu a mim. Recolhi minha
mão enquanto controlava a respiração e os batimentos cardíacos.
Ela agradeceu, levantou e acenou para o ônibus parar. Me
levantei e entrei no mesmo ônibus com ela. Sentei do lado dela, logo depois de
ter pago sua passagem. Respirei e dessa
vez sem pensar muito, disse meu nome. Ela, ainda me desconcertando como o seu
sorriso, disse: Bruna. Então aqueles olhos negros tinham um nome e era lindo.
Rimos e, estranhamente, uma conversa fluiu. Chegado o destino dela, demos um
abraço desengonçado e ela se foi.
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