Ás vezes necessito que as coisas fiquem onde estão. Que não possam ser vistas, ou sentidas por mim. É uma dor que aperta o peito e faz a respiração tornar-se fraca.
Ontem, ao ver a chuva cair aos montes, as ruas estavam como rios; ilhando e isolando qualquer um que tentasse atravessar estradas e becos a pé. Isso causou o silêncio. A cadência da chuva trazia um conforto do estar só que não deprimia, mas consolava. Uma invasão de liberdade, do não ser visto, do não importar-se com julgamentos, fez-me correr até o quintal e num impulso lancei-me na chuva. Caíam as gotas de chuva em meu rosto e eu sorria. A sensação de sentir-se só me fez rodopiar como criança que acaba de ganhar um doce. Deitei na grama e observando o céu repleto de carregadas nuvens, sinto que meu sentimento de prender tudo num espaço só sempre acontecia. O céu me prendia através de um grande muro, que me separa daquilo que não posso ver.
E cada vez que desejei que coisas, sentimentos e pessoas pudessem ser presas para não as vê-las, ou até mesmo protegê-las eu que me prendia abaixo do céu.
O que há depois de lá? Que surpresa posso encontrar? Quem me guardou aqui queria me conservar, ou se desfazer de mim?
O céu é um muro. Intocável, infindável. Há quem diga que pode atravessá-lo, mas ao tentar vê que é mais uma ilusão, que se tem muito pra se ver além. E quando perguntado do que viu apenas diz com olhar de maravilha e espanto: "Eu só vi mais céu!".
Sabe, ás vezes eu gostaria que existisse um muro. Um espaço entre mim e o outro lado, escondido, preservado. Onde eu pudesse colocar aquilo que me machuca, para não ter mais que chorar.
Ainda ontem, deitada na grama, molhada da chuva, sou acordada de meus pensamentos e percebo que tenho que sair. Minha ilha de solidão me expulsa de mim mesma e tenho que atravessar a chuva e as ruas alagadas. Era inadiável. E tinha que ir sozinha. Agora, o estar só não me era tão atrativo. Perdia-me em argumentos que me levassem a crer que estar só era melhor. Sai de casa e pus o pé na calçada. O silêncio agora me amedrontava. Cada esquina e rua que atravessava o coração gelava ao passo que o frio da noite aumentava. Os pés imersos na água, em alguns trechos, me fizeram lembrar que eram elas que causavam o silêncio.
Não importasse quão só estivesse, ou onde eu tivesse escondido o sentimento. Não importava quão grande fosse o muro que me separasse do que eu estivesse vivendo. Porque a dor sempre vem de dentro.
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