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. SILENCIAR .




No dicionário, silenciar, significa, "ficar em silêncio; calar-se. Fazer calar." Pra mim, é BARULHO. Daqueles ensurdecedores, perturbadores, inquietantes. Barulho dos grandes. Aquele que te traz sofrimento, angústia. 


Uma vez, numa tarde agradável de outono, Joshua passeava pelo bosque. Cercado por árvores, flores, pássaros, borboletas... respirava cada partícula de ar como se fosse sua última respiração, e tentava, com sem muito esforço, guardar em sua mente, cada pequena imagem que possuía vida diante de si. Depara-se, então, com um espaço. Escuro, e um pouco fétido. Sem nenhum aviso, recebe a notícia de que algo havia de errado. "- O quê?", pensou Joshua, mas do lado de lá, só havia o silêncio. Aperta os olhos e aguça os ouvidos para tentar descobrir de onde tinha vindo a voz, gritou, perguntando com quem falava, mas todas as suas tentativas foram inúteis. Já cansado, Joshua, percebe que havia anoitecido. Um vento frio percorre sua espinha. Ele treme. Está sozinho. Cada som que lhe chega aos ouvidos, é mil vezes mais assustador que qualquer filme ou livro de terror que já tenha visto e lido. Pior que o frio, o som amedrontador, era o fato de estar só, diante daquele espaço ainda mais escuro, e perturbador. Aquele espaço o tirava as forças, o silenciava. Joshua tentou ser forte, mas não conseguiu. Lágrimas começam a escorrer por seu rosto. Um soluço, por tanto tempo preso, surge em sua garganta sendo impossível de segurar. 
Então um grito de dor emerge daquele espaço, calando todo os sons do bosque e emudecendo o frágil e pequeno Joshua. "- Do que você tem medo?", a voz agora gritava, "- Diga-me, o que você teme?" Silêncio. O pequeno garoto, agora com os olhos arregalados, engole o choro e seca a lágrima que acabava de brotar de seus olhos. Nada dizia. Afinal, o que dizer? O medo o paralisava. Os minutos lhe pareciam eternos, e dolorosos. Do espaço saía agora um vento muito forte acompanhando a voz que dizia: "-Então... é disso que você tem medo? Medo de mim? Da minha fúria?" E o forte vento agora arrancava as árvores, lambia o pequeno riacho que havia ali perto, e que o pequeno Joshua nem havia percebido. "-Responda-me!", ordenava o espaço
Joshua, pensando em tudo que era e em todos a quem amava, foi tomado por uma força tamanha que nem mesmo ele sabia que possuía, e respondeu (ainda tímido): "-Não tenho medo de você, espaço..."
"-Então, se não tens medo de mim, o que temes?"
"-Tenho medo de descobrir o que existe através de você."
Ao ouvir isso, o espaço, mais uma vez se cala. O céu começa a indicar os primeiros raios de sol, e uma brisa suave penteia os cabelos de Joshua. E do espaço escuro, surge uma voz, calma, doce, porém firme: "-Venha, meu pequeno menino. Venha!". Joshua respira fundo, e milhões de pensamentos percorrem sua mente. Ele deveria confiar naquela voz que ainda a pouco o petrificara de medo? Joshua estende a mão, ainda trêmula, para o espaço e é tomado por uma torrente de imagens e sons. Joshua sorri. O medo já não existia. Era tomado por uma torrente de palavras que o tornavam mais e mais forte, e essas palavras o levaram a liberdade. E ele voou, voou e sumiu risonho. O espaço do silêncio é, perturbadoramente, barulhento. E ele, já não mais existia.

FALE.
 
 
 
         

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